Artigo (As primárias norte-americanas e as relações com o Irã)

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A corrida presidencial nos Estados Unidos começou de modo oficial neste mês. A candidatura de maior disputa será travada entre os candidatos do Partido Democrata. Já estão inscritos 21 candidatos para disputar as eleições internas do partido. Entre aqueles que lideram a corrida estão o ex vice-presidente Joe Biden, com 31% das intenções de voto, o senador Bernie Sanders, com 15%, e a senadora Elizabeth Warren, que conta com 11% das intenções.

A disputa que iniciou o ano com uma maior proximidade entre Biden e Sanders vem sendo acompanhada pela trajetória ascendente de Elizabeth. A professora e senadora pelo Estado de Massachusetts, um dos três mais populosos dos Estados Unidos, disputa os votos da fatia mais progressista do eleitorado democrata, ao contrário de Biden, que ocupou o cargo de vice-presidente do governo Obama, e representa uma alternativa mais próxima ao eleitor médio, que oscila entre o lado republicano e o lado democrata. 

Entretanto, os fatores internacionais serão inescapáveis para o êxito da corrida eleitoral. Entre estes, estão as relações entre Estados Unidos e Irã. Donald Trump, ao decidir se retirar do acordo nuclear costurado ao longo do governo Obama, representa uma fonte de divergência entre os apoiadores de seu governo, ligados direta ou ideologicamente à parceria estratégica entre Estados Unidos e Israel e os demais eleitores, sejam eles de posições moderadas e os que consideram inadmissível a possibilidade de um conflito militar com o Irã. O que está em jogo é a política de “pressão máxima” adotada por Trump em relação ao Oriente Médio, somada às alianças tradicionais entre Estados Unidos e Israel, tanto em relação ao modelo de inserção no Oriente Médio, quanto em relação ao financiamento da campanha eleitoral.

Entre as opções adotadas por Trump ao longo de sua primeira campanha presidencial estavam a mudança no perfil de inserção, tal como adotado por Obama entre 2009 e 2017. As relações com o Irã e o acordo nuclear elaborado pelo ex-presidente, em conjunto com os demais membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas e Alemanha (P5+1), foram pontos de representativa diferença entre o eleitor conservador e o progressista, assim como um ponto de grande crítica por parte do recém-reeleito primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.

Quanto ao candidato democrata de maior expectativa de votos, Joe Biden, antigo vice-presidente do governo Obama, foi um personagem que contribuiu diretamente para a costura do acordo nuclear e representa um perfil de relação com o Irã marcado pela “paciência estratégica”. Como um antigo senador que ocupou a comissão de relações exteriores no Capitólio e participou de votações históricas em relação ao Oriente Médio, o candidato mostra-se como um competidor de ponta ao cargo de presidente dos Estados Unidos. As pesquisas de intenção de voto para a presidência indicam uma possível vitória para o candidato democrata.

O plano externo, portanto, oferece um dilema ao candidato republicano e um desafio ao candidato democrata. Quanto a Trump, demanda uma posição de ruptura com a política externa de Obama ao se reaproximar da posição de Netanyahu em relação ao Irã, ao mesmo tempo em que necessita convencer o eleitor médio, que não pretende entrar em uma guerra onerosa para os Estados Unidos. Já o democrata Joe Biden precisa passar uma imagem de confiabilidade de que vai enfrentar um estado iraniano fortalecido, bem como garantir que tem condições de controlar a política externa dos aiatolás.


André Frota é professor dos cursos de Relações Internacionais, Ciências Políticas e Geografia; e membro do Observatório de Conjuntura do Centro Universitário Internacional Uninter

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