Crônica (Coração imenso)

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Os repórteres do telejornal numa dobradinha profissional o heroísmo da vítima. A garota em questão fora morta por uma bala perdida, vinda não se sabe de que lado, mas das mãos de uma prima de menor. Os órgãos foram doados – enfoque principal da notícia – trabalhada como atitude essencial aos seres humanos, não se sabe se por interesses maiores.

A criança heroína em questão ajudou a salvar quatro vidas, ainda que não ousasse pensar em interesses, nem sendo autoridade ou repórter, mostrou-se maior que todos. Superior até mesmos aos militantes das campanhas de doação de órgãos, governantes, e; dos médicos que agiram para salvar as outras vidas. Tinha anos. Seu fígado foi doado a uma garota de nove, conterrânea sua, no Estado de Pernambuco. Emanuele voltou a viver. Saiu do sofrimento, da fila de espera para adquirir um órgão. As famílias congratularam-se pela solidariedade. A garota morta, sertaneja, viveu curto período, mas provou, conforme escreveu Euclides da Cunha, que “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”. Os sertanejos desse episódio não assimilariam as palavras de Euclides, pois o nó na garganta mal permitia falar.

O transplante foi feito no Recife e a mídia nacional divulgou o caso em primeiro plano. Na reportagem um pai chorava e outro, apesar de acanhado estava menos triste. Os rins e as córneas foram doados. Não se falou no coração. Este não foi doado pois a pequena morrera cm um tiro na cabeça. Parou o cérebro e também o coração que são órgãos vitais.

Penso que cada órgão ali doado equivale a um coração imenso. Poderia dizer que o fígado foi para Emanuele um grande coração. A doadora, dias antes havia confidenciado a avó – como muitas crianças dizem a seus pais o que pretendem ser quando adultas – que, quando morresse queria que seus órgãos fossem doados. Seu pensamento era humanitário. Morreu como um cordeiro; saiu da vida, doando vida.

A fatalidade, de fato crime do sistema que promove o avanço, por não haver um trabalho de conscientização, se deu por causa da permissão a menores em manusearem aparelhos perigosos. Hoje as crianças sabem para que serve uma arma, como pode ter acontecido nesse caso, na maior das inocências. Se é que inocência ainda existe. A criança que brincava montada em animais, não pode comparar suas atitudes com as brincadeiras atuais, de videogames, jogos na net, de heróis que sabem matar. A adulto de hoje, perto dele é atrasado. Mesmo que traga em sua lembrança uma infância fantástica, onde passeava no lombo de um carneiro entre árvores de uma bela fazenda, tudo numa rica natureza nada emociona as crianças robóticas atuais.

Hoje as crianças nascem e já sabem mexer em aparelhos celulares, câmeras portáteis. Com dois anos, o curso das avança, modifica tanto quanto uma década de tempos passados. Claro que o caso da menina baleada deve-se muito mais à responsabilidade (ou irresponsabilidade) de pessoas Del próximas. Porém é hora de definir nosso lugar de adultos e o das crianças, e não deixá-las no nosso lugar. É preciso enxergar melhor nossos problemas e enxergar bem é uma tarefa exigente, pois as córneas da garota foram doadas e ela continuará, de certa forma, vendo o mundo cruel que permitiu que ela o deixasse, só que desta vez sem ter que passar pela dor da bala, espera-se.


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