O próximo presidente (ou a cultura de pensar com a barriga)

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O próximo presidente da República tem tudo para ser o ícone capaz de reunir em seu perfil os velhos vícios das práticas escusas e o populismo irresistível para o campo mental brasileiro.
Quem nos traz essa certeza é, mais uma vez, a decepção geral, fase posterior à derrocada das máscaras políticas. Não é um momento novo, mas a reconfiguração da sociedade civil. Nos episódios anteriores em que os brasileiros enxergaram em um líder a personificação de “salvador da pátria”, obteve-se resultados desastrosos. Com Jânio Quadros, o homem que varreria a corrupção, desembocamos no regime militar. Ao optar pelo caçador de marajás, Fernando Collor, fomos forçados a ter o primeiro impeachment, rendendo ao Brasil os sintomas de uma republiqueta, aos olhos do mundo. Com Lula, o resultado é o primeiro ex-presidente condenado por corrupção.
Essas lições são mais que suficientes para rejeitarmos os discursos alinhados com tudo e todos. A fala que se propõe o bálsamo para todas as feridas e discorre sobre as necessidades emergentes da população, tende a falhar. A missão para 2018 é deixar de ser um país adolescente, que se recusa a crescer. É deixar de buscar heróis de ocasião e parar para discutir política como gente grande (aliás, isso deve começar desde já, com o devido pesar de não termos feito há muito tempo). É preciso dispensar a segurança e escolher candidatos mais humanos, que admitam erros e tenham a coragem de reinventar-se e aceitar sugestões, pondo-as em prática quando lógicas.
Não podemos continuar a discutir, a cada eleição, as mesmas motivações pelas quais determinadas coisas não avançaram no passado. 
Nosso maior calo é que temos dois tipos de políticos: os que nunca deram certo na vida profissional (adivinhem os passos que darão no poder) e não contribuem com uma ideia sequer, ainda que pequena, para o crescimento do país, e os que sabem de todas as necessidades da população, mas, quando estão no poder, não põem em prática os planos nos quais são especialistas.
Na cena ainda surgem esporadicamente aqueles que pretendem transformar o país. Mas quem tem convicções baseadas em valores éticos, é rejeitado. Em geral, são os dotados de um espólio intelectual elevado, condição ofensiva à maioria. A essa altura, perguntaria o leitor: será que nunca teremos oportunidade de ter um bom nome para escolher? É raro, mas creio que surgirá. Até já surgiu. Quando o Dr. Enéas Carneiro colocou seu nome na disputa para a presidência da República, foi confundido como humorista. Ocorre que ele comprimia sua mensagem, devido ao sistema político que não lhe dava voz. Naquela rara ocasião, tivemos um grande brasileiro, dono de capital moral e intelectual, disposto a dar novo rumo ao país, patriota que era.
E por que a população não aproveitou a oportunidade? Aqui entra “a pontinha do drama”, como diria Machado de Assis. Os brasileiros têm escolhido o candidato das grandes corporações. No presente, caminhamos para cometer os mesmos erros. Emergirá o candidato capaz, revestido de defensor de todas as causas. Ele terá a tarefa de dar prosseguimento às reformas que a mídia e os políticos do sistema repetem que o Brasil tanto precisa para desenvolver-se (a carga, naturalmente, é nos ombros do povo). E assim teremos mais um presidente que precisa ofertar mais espaço aos políticos e ter diálogo para empreender as grandes questões nacionais.
Seria diferente se tivéssemos um quadro desolador como há alguns meses. Nesse caso, ficaríamos mais divididos e considerando a polarização entre as supostas “direita” e “esquerda” brasileiras. Mas a economia dá sinais positivos e, para 2018, ainda mais. E como nossa cultura é pensar com a barriga na hora do voto, elegeremos o candidato ventilado pelo sistema, mais velho e apodrecido que seus antecessores, ainda que nunca tenha posto seu nome na disputa.

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