O voto
Diego Santos - Advogado
Em função da iminência do dia 02 de outubro e do dever cívico que nos assola, urge a necessidade de traçar algumas linhas sobre o voto.
É cediço que os cargos políticos devem ser ocupados por gente politicamente engenhosa, moralmente impoluta e eticamente incólume. No entanto, não me engolfarei nessa seara, prefiro a gênese da coisa: o voto individual. E o faço por óbvia e simples razão: é a partir dele que tudo se desdobra.
Tenho a impressão de que o voto é, antes de tudo, uma abnegação a quaisquer privilégios meramente individuais que possam advir da ascensão do candidato escolhido por mim ao cargo pleiteado. Trata-se de tarefa árdua: estou a falar de altruísmo singular; de abdicar uma vantagem pessoal em benefício de um bem comum. Cuida-se de optar pelo melhor, ainda que o melhor não seja o “melhor” para mim de um modo bem particular. Mas essa tarefa é, apesar de difícil, dever inerente ao povo, d’onde todo poder emana e cuja luz se extrai do juízo de uma evidente lógica: toda coletividade, representada pelo estadista, é constituída por indivíduos, os quais, no instante em que direcionam seus votos por razões eminentemente pessoais, acabam por macular individualmente o coletivo, e, por consequência, a própria natureza da eleição.A disfunção, contudo, não se limita a este aspecto.
Embora possa falsamente parecer, o exercício da democracia não se encerra no voto, apesar desse solene ato constituir possivelmente o momento mais característico do regime democrático. A democracia se projeta além ao oferecer mecanismos de controle, proteção e reivindicação que os cidadãos podem e devem manusear para pressionar o agente político a cumprir os compromissos assumidos quando do escrutínio, até porque, evidentemente, a eleição não imuniza o candidato.
Daí dizer que se todo poder do povo emana, e o povo, a partir do cidadão, não se permite a honradez de uma análise minimamente republicana, isto é: considerar – pois inafastável – sua preferência política e não tencionar privilégios privados oriundos da coisa publica, não há legitimidade (ou mesmo sentido) em aventurar-se a exigir do eleito, através desses instrumentos de controle, o comprometimento com as práticas próprias do bom político. O eleito reflete naturalmente os anseios do povo que o elegeu, com suas qualidades e mazelas. O representante representa o representado, afinal.
Ademais, já é tempo de compreender e exercer o papel também do cidadão no processo político. Já é tempo do sentimento de comunidade se concretizar como fundamento dessa República, na qual não pode e nem deve haver margem para escambo eleitoral. O Voto, como disse, é o momento mais sublime do exercício da democracia e deve ser exercido de maneira que atenda ao seu valioso espírito, cuja essência deve expurgar qualquer ânimo eleitoral que não for a solidariedade e o senso holístico de prosperidade. Numa palavra: ao votar liberte-se de qualquer amarra individual, de qualquer interesse paroquiano e exerça de modo essencialmente livre esse mister.
Sivaldo Venerando. Tecnologia do Blogger.
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