Moro e a política pós-pandemia

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A saída do ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro traz um abalo para o governo Bolsonaro.  O déficit se junta à saída do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta que vinha desempenhando um papel importante a frente da pasta que comandava, em um momento crucial para a saúde pública do Brasil e do mundo inteiro. Ele adotou políticas de acordo com o que a ciência e as autoridades sanitárias orientam para o combate ao coronavírus. Por discordar do isolamento na vertical, houve enfrentamento com o presidente e Mandetta caiu. Foi nomeado um novo ministro, o Nelson Teich, mas este ainda não disse a que veio.

No caso Moro, o estrago é maior. Politicamente, diga-se. A saída do ex-ministro da Justiça já causa uma divisão entre os seguidores dele e do seu ex-chefe. Moro é quem diretamente disputa a popularidade com Bolsonaro. Visto como o símbolo anticorrupção no país, ajudou no sentimento gerado no povo brasileiro quanto ao encharcamento contra a corrupção e isso contribuiu com a vitória de Bolsonaro. 

No pronunciamento de ontem (24/04), o presidente tentou colocar a culpa no ex-ministro pela decisão de sair do ministério, quando o próprio Bolsonaro confessou que a exoneração do ex-superintende Maurício Valeixo foi um ato político. 

Talvez Bolsonaro pretendesse atitudes por parte do ex-ministro que este não poderia tomar. Esperava que Moro o defendesse com relação a recente participação que fez em meio a manifestação no domingo passado. Atitude que, aliás, lhe rendeu uma investigação autorizada pelo Supremo. Em momento algum Moro se manifestou sobre o assunto. 

Para sair do ministério, Moro não pediu a demissão a princípio. Apenas apresentou algumas condições que, se cumpridas, o faria permanecer cargo. Entre elas estava a permanência de Maurício Valeixo. Bolsonaro viu isso como afronta à sua autoridade, quando foi apenas o direito natural exigido por Moro. Outras motivações contribuíram para a saída de Moro anteriormente. Por exemplo, os cortes feitos no pacote anticrime e também a pressão de Bolsonaro para separar o Ministério da Justiça do da Segurança Pública. Esses deslizes juntados à exoneração do superintende da Polícia Federal gerou o fim da parceria Bolsonaro/Moro.

Mas para onde segue o governo Bolsonaro? O próprio presidente sente que há um enfraquecimento na estrutura governista, pois falta sustentação no Congresso. A falta de diálogo levou a isso. A política de coalizão, modelo adotado desde sempre por governos anteriores, prejudica o Brasil porque deputados e senadores exigem a nomeação de cargos nas estatais, nos ministérios. Seus partidos passam a tirar vantagens e, como assistimos nos últimos anos, os cofres públicos ficaram arrombados. Para se ter uma ideia, as estatais estavam dando um prejuízo até 2018 de 35 milhões e em 2019 passaram a dar um lucro de 70 milhões, ou seja, triplicaram a capacidade de faturamento. Logo o distanciamento entre Congresso e governo, fazendo com que deputados e senadores não indiquem cargos nos órgãos públicos, é uma forma muito eficaz de evitar que haja prejuízos ao país. E Bolsonaro vinha mantendo isso com certo sucesso. Inclusive, negociando numa margem baixa com o Congresso, conseguiu aprovar muitas pautas governistas. 

Agora o presidente procura construir a sua base de apoio, fazer um presidencialismo de coalizão, tentando fechar com alguns partidos para ter boa relação com o Congresso. Com a nova política de Bolsonaro, o país voltará à relação promíscua entre Congresso e governo. 

Quanto a Moro eu não diria que possa ser um candidato super competitivo para 2022 como se prega. Está muito distante. Porém não deixa de ser uma possibilidade. A questão é onde ele irá se alojar. Fundar um partido é muito complicado. O próprio Presidente não conseguiu ainda fundar o seu partido e há muitos pedidos no Brasil. Logo a solução para Moro seria se filiar a um partido já existente, o que há uma certa dificuldade por conta da questão moral que ele carrega em si. Em todo caso seria um candidato que captaria muitos votos da ala conservadora. 

Veja que o Brasil vivencia a onda conservadora e essa questão política é comparável a uma roda giratória. Houve uma época em que a social democracia estava em alta; PT, PSDB... hoje é o conservadorismo. Então candidatos que se aproximem dessa ala conservadora terão cada vez mais a preferência do público. Dificilmente alguém ligado à social democracia, mais conhecida como esquerda, terá sucesso nas próximas eleições. A tendência é que a onda conservadora siga produzindo candidatos. Se não aparecer ninguém, Bolsonaro certamente estará fortíssimo, até porque outros fatores contribuem para isso: ele estará com a base no Congresso, com partido consolidado e muito tempo de rádio e TV. Porém o que mais pesará positivamente não só pra ele, mas também para os governadores e presidentes de outros países, serão os resultados da política de atuação contra o coronavírus. Porque apesar de até agora o governo brasileiro não ter apresentado uma agenda eficaz no combate ao coronavírus, no final das contas o Brasil sairá dessa situação com muito menos prejuízo do que outros países e o sucesso será atribuído ao governo. Além disso, no pós-pandemia poderá acontecer o fenômeno de desemprego alto. Nesse caso o Estado vai chegar junto, liberar recursos, implementar políticas sociais. Essa espécie de paternalismo, que é muito comum que as pessoas enxerguem o Estado como um pai, certamente vai beneficiar não só Bolsonaro como os governadores e candidatos a presidente no mundo inteiro que disputarão eleições em um período de uns dois a seis anos na frente. 

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