Crônica (Mordaças contemporâneas I)

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Não basta desprezar os valores humanos. Nosso povo inconformado continua na busca incessante de sua identidade; na verdade, direciona isso a um subterfúgio barato estampado no rosto e pronunciado com orgulho: “somos o país do carnaval, do futebol, das praias; que bom... que bom...”
Só que, para surpresa nossa, a China e a Tailândia consolidam-se como os países da educação e o Japão da tecnologia. São os outros, sempre eles que seguem em direção ao topo. Nós, embora tenhamos condições de nos tornar superpotência, preferimos balela, à disciplina na hora de adquirir conhecimento.
E o resultado todos sabem: a tecnologia vai se alastrando em meios de relacionamentos como o apogeu da liberdade, criado em porões de fina ousadia e inteligência humana. Com ela sim, a humanidade ganha “superpoderes”, num abrir e fechar de cortinas.
As redes sociais, indiscutivelmente, atraem milhões de pessoas do mundo todo, oferecem comodidade em pesquisas, notícias e descobertas em tempo real. E não é só: através delas o usuário acompanha momentos inesquecíveis de parentes distantes, reivindica direitos, estuda, forma opinião, paquera sem passar pelo constrangimento de um “fora” em público e uma infinidade de benefícios. Ou seja, estamos desfrutando o ápice da odisseia virtual.
Apenas alguns cuidados. É bom tê-los por perto; nunca é demais. É ilegal, por exemplo, a forma como, sem conhecimento preciso sobre regras de uso, aderentes dessas redes as usam para desrespeitar pessoas, quando se combinam badernas em massas e brigas em estádios de futebol e locais públicos, ou mesmo postam conteúdos inadequados, sabendo que crianças têm o mesmo acesso ao site.
Prejudicial torna-se também o uso com desconhecimento total das redes, da tecnologia implantada e o convencimento de que os criadores desses meios de comunicação dão e sempre darão as cartas quanto ao pensamento do futuro. 
É fato, porém, que maioria da humanidade tem preguiça de pensar e segue as regras e novidades tecnológicas numa avalanche desproporcional à crítica, uma espécie de masoquismo do logos, ou pequenez do intelecto, e assina a outorga da burrice.
Seria covardia ou desleixo dos controladores dos sites permitir a postagem de fotos sensuais dos usuários afrontando os direitos alheios? Essa, aliás, é uma batalha onde dificilmente se levantará uma bandeira contra, a menos que o autor do protesto seja tão careta quanto este colunista. Fico com a caretice. Ela é preferível ao pensamento mesquinho e conformista do “tudo vai bem”, enquanto o esgoto aberto da baixaria, do escândalo pessoal e da pornofonia no lugar do humor são consumidos como matéria prima dos novos tempos.
É tão normal a sensualidade precoce, a chancela das amizades virtuais acima das de carne e osso, da falta de caráter e relacionamento sincero na vida real, que a infância foi relegada à lembrança de quem tem hoje acima de 20 anos de idade. 
O problema é como lidar com o estigma da liberalidade. O que farão os pais atuais? Os novos relacionamentos são bem mais vorazes e abertos, e quase sempre resultam em gravidez indesejada e na sensação de que não é nada demais livrar-se do feto. Matar já é quase um dever.
Outro agravante é a bisbilhotagem íntima, o anseio pelo despudor. São algemas neutralizantes a controlar a humanidade, dando instruções para ela aniquilar a moral e erguer a bandeira da banalidade num triunfo devasso. É isso aí, mais interessante que discutir políticas culturais, de educação e saúde, é apoiar os “injustiçados” dos realitys shows da vida, quando esses fingem escândalos previamente planejados.

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Sivaldo Venerando. Tecnologia do Blogger.