Professor da Unesp publica inéditos de Olavo Bilac

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Às vésperas do centenário de morte de Olavo Bilac, o mais popular poeta parnasiano, que ocorrerá em 2018, vêm à luz as suas Sátiras com parte significativa de sua produção no gênero. Organizado por Alvaro Santos Simões Jr., professor da Unesp de Assis, o livro inaugura a Coleção Brasil, projeto da Cátedra Infante Dom Henrique para os Estudos Insulares Atlânticos e a Globalização, que é vinculada ao Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias (CLEPUL) da Universidade de Lisboa. 
Dirigida por Vania Pinheiro Chaves, docente e pesquisadora que dedicou toda a sua carreira à divulgação e promoção da cultura brasileira em terras europeias, a Coleção Brasil objetiva, como se lê em seu site na internet, “disponibilizar um amplo e representativo conjunto de textos, inéditos ou esquecidos, do patrimônio literário, histórico ou cultural do Brasil, privilegiando a publicação online”. Com efeito, as Sátiras, quarto volume da série, podem ser obtidas integral e gratuitamente no seguinte endereço eletrônico: http://cidh-global.org/colecao-brasil-2/
Se estivesse vivo, talvez o próprio autor dos poemas satíricos em questão ficasse contrariado com a sua divulgação, pois, pouco antes de morrer, deixou instruções precisas e peremptórias aos seus herdeiros para que não publicassem seus textos de imprensa. 
Bilac provavelmente preferia ser lembrado muito mais pelos seus poemas parnasianamente perfeitos do que pela “frívola e irônica literatura” que espalhou pelos jornais, sempre com pseudônimos como forma de diferenciá-la de sua produção “séria”. Foi em 1915, no Clube Militar do Rio de Janeiro, que se referiu dessa forma depreciativa a parte de sua produção jornalística, que julgava estar “muitas vezes eivada do fermento anárquico”. 
Naquele contexto de Guerra Mundial e de sua campanha pelo alistamento militar obrigatório, convinha a ele justamente esquecer as ousadias do passado. Nas sátiras, assim como nas crônicas que já foram publicadas pelo professor citado acima (Crônicas da Belle Époque carioca, Editora da UNICAMP, 2012) e principalmente por Antonio Dimas (USP), organizador dos três volumes de Bilac, o jornalista, pode-se conhecer um pouco do ativismo político do poeta da Via Láctea, que fez oposição incansável a Floriano Peixoto e, posteriormente, combateu a carestia e outros sérios problemas enfrentados pela população do Rio de Janeiro.
Nas Sátiras, agora publicadas, encontram-se dois poemas satíricos que criticam, por seu desrespeito à Constituição republicana, o presidente que passou à história como o Marechal de Ferro. Bilac pode, portanto, figurar na literatura brasileira, ao lado de Lima Barreto, como um dos principais críticos do chamado “Consolidador da República”. Em função do seu posicionamento corajoso contra quem considerava um “ditador”, o poeta parnasiano foi preso três vezes e precisou exilar-se em Minas Gerais, onde nos anos de 1893 e 1894 contou com o apoio de lideranças políticas locais.
Como a sátira “parasita” outros gêneros ou formas textuais, o quarto volume da Coleção Brasil organiza-se de acordo com as formas poéticas adotadas por Bilac. Por isso, encontram-se os textos divididos em poemas herói-cômicos (paródias de Camões), esquetes, sonetos, odes, crônicas, canções, fábula e epigramas. 
A qualidade literária dos textos é relativamente desigual, mas se encontram entre eles obras-primas do gênero satírico como o texto “Um poema”, que se constitui de uma fusão muito bem engendrada entre a sátira e a paródia. De um lado, inimigo que era da jogatina, Bilac critica, sob o pseudônimo de Fantasio, o barão de Drummond, criador do popular jogo do bicho; de outro, ridiculariza o estilo poético dos então chamados “nefelibatas”, que, inspirados em Verlaine ou Mallarmé, procuravam apresentar uma alternativa ao hegemônico parnasianismo. Do seu ponto de vista, tanto o velho titular do Império quanto os jovens discípulos de Guerra Junqueiro estariam empenhados em explorar a boa-fé do público.
Para cada texto reunido no volume, indicam-se o título do periódico e a data da publicação original. Em poucos casos, claramente indicados, os textos foram transcritos diretamente de livros. A maioria dos textos, porém, é publicada em volume pela primeira vez.
Alvaro Simões Jr. dedica-se à obra de Olavo Bilac desde seu curso de Mestrado, realizado de 1992 a 1995, período em que estudou a seção humorística “O Filhote”, que se publicou na Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, nos anos de 1896 e 1897. Durante o seu doutoramento, concluído em 2001, levantou e analisou a obra satírica de Olavo Bilac publicada em periódicos de 1894 a 1904. 
O resultado desse trabalho pode hoje ser apreciado no livro A sátira do Parnaso (Editora da UNESP; FAPESP, 2007). Durante sua carreira de professor de Literatura Brasileira na Faculdade de Ciências e Letras de Assis (UNESP), Simões Jr. deu prosseguimento ao estudo do poeta parnasiano. 
Seus trabalhos mais importantes reuniram-se no livro Bilac vivo, que se encontra no prelo e deverá ser em breve publicado pela editora da UNESP. Por essa mesma casa editorial, o pesquisador já estampou seus Estudos de literatura e imprensa (2015), dos quais consta um estudo sobre os livros escolares escritos por Bilac, defensor intransigente do ensino básico público e universal. Trata-se do ensaio intitulado “Literatura paradidática e nacionalismo na Primeira República”. Os Estudos de literatura e imprensa estão disponíveis para download gratuito no site da Editora da UNESP.

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