Tomei conhecimento, e mais tarde constatei, que numa pequena cidade do interior pernambucano, os homens ainda conservam uma maneira simples de viver. Mesmo com a tecnologia dentro de casa, não dispensam certos costumes. À tardinha se reúnem em frente ao casarão ou no terreiro de uma choupana. Ali se sentam em bancos improvisados, e de fácil confecção. Dá para mais ou menos dez pessoas o antigo coqueiro.
Então vêm à tona conversas de suas intimidades. Desafogam dores e interpretam empulhações, recurso improvisado para espantar infortúnios. Aliás, para eles os infortúnios não são menores, apenas amenos. Quando se reúnem em frente a determinado casarão, sentem que os diálogos devem ser mais respeitosos. Nutrem profunda admiração pelo dono da asa e sua senhora. Curioso é que os donos desses casarões são para seus irmãos, uma espécie de “patriarca”, embora não oficializado. É ele o intermediador entre seus vizinhos e o poder público municipal, por exemplo. É uma função chamada em outros locais de cabo eleitoral.
O calo é que, nesse caso, o homem não subtrai para si dinheiro em troca de votos que arranja. Também não exige cargos públicos em troca de apoios como é comum em cidades maiores. Esses “cabos” são geralmente motoristas de uma empresa de transporte, gerente de loja ou de qualquer outro estabelecimento naquela cidadezinha. O motivo pelo qual os habitantes dali escolhem o governante é interessante. Quase uma ligação por via parental. Se o “patriarca” entender que o filho de um antigo amigo de seu pai é o melhor candidato, tudo está resolvido. Essa é a forma como os políticos se eternizam no poder por lá. A conversa com velhos “patriarcas” o almoço em grupo no terreiro, têm a mesma importância que os conchavos com aliados na esfera estadual e federal.
Tanto velhos amigos dos políticos quanto seus irmãos magoam-se facilmente se alguém diz que seu prefeito anda metido em corrupção. Para eles o prefeito é a pessoa mais importante do lugar, com a licença do doutor juiz de direito. Também observa-se que cada homem dali se parece com o outro quando viaja para fora. Repentinamente tem cismas. Não aceita informação de estranhos, a não ser quando sente que o intruso fala um linguajar aproximado do seu. E mais; mostre através de gestos saber o que ele sente. Porém, a prova definitiva é o interesse pelas terras do matuto. Aí ele aceita informações mesmo com desconfiança.
Engenhosa é a descrição de casos violentos ou de corrupção feitos pelo homem simples. Tudo parece naturalmente uma teima, quando divagam pelas atitudes dos “grandões”. Há quem creia haver ligações entre os fatos modernos e antigos acontecimentos passados naquele lugar. Aliás, a teima é uma constante que mantém viva a esperança daquela gente. Do homem que desde menino caminha de camisa aberta, com a brisa enfriando o peito e na boca um cigarro de capim, conservador da inocência eu não se sabe inocente.
Crônica (Cigarro de capim)
Sivaldo Venerando. Tecnologia do Blogger.
0 comentários:
Postar um comentário