Artigo (Humor e horror)

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Há momentos em que me dá vontade de ser cético. Vez por outra consigo; em casos específicos. Não é vantagem. Teimando, perderia a corrida da humanidade dividida entre românticos e ultracéticos. Prefiro os primeiros. Sou desse time com fé e esperança na vida, desejoso de justiça, amante da própria vida e lutador para que a dos outros seja melhor...Eu gostaria de ser cético para não ver a morte virar chacota. (A morte é o horror em si). Ao ser compartilhada, provoca choque, desespero e ceticismo. Uma vez escrevi uma poesia dizendo que a morte é “imensurável”, “chega inexplicavelmente”, “retira-se” e envia “lâminas de dor”.
Há tanta gente inocente com vidas ceifadas e uma multidão de canalhas fazendo piada com isso. Fazem piada com as guerras, com as crianças desnutridas, mortas, estupradas...
Não sei se a dor tem volume; sei ser possível acrescentar algo mais nela. Para isso, atira-se uma flecha aguda no cerne da ferida.

A despeito do trágico acidente que matou Eduardo Campos, foi grande o número de piadas e suposições maliciosas nas redes sociais e internet em geral. As pessoas não guardam mais ressentimento. Esse é um caso que ganhou os holofotes, mas há muitos, não bem divulgados, em que ultracéticos exibem pedaços de corpos como troféu e fazem comparações ridículas como objeto de “humor”.
Ainda sobre o caso, Maurício Meirelles, repórter do “CQC”, a quem as pessoas chamam de humorista (até porque a imprensa diz que ele, seus companheiros, turma do “Pânico” e cia são humoristas, cada um deles acredita, e muitos desmiolados neste Brasil fazem o mesmo). Nenhum deles desconfiou ainda que é ironia... foi muito infeliz na “brincadeira” com a morte de Eduardo, como tem sido na “carreira artística”, em particular.Mas, mesmo por um momento, repito, é duro ver a dor virar chacota. O que impulsiona pessoas a esse tipo de desumanidade? Falta de caráter? Uma sublimação da impunidade aos crimes? Um conformismo com a crueldade já bem comum aos nossos olhos?
Por incrível que pareça, a humanidade é menos violenta hoje. A diferença é que, atualmente, mata-se com a certeza da impunidade e da ironia de alguns, prontos a transformar o horror em “humor”, crime hediondo em justificável.
O horror está bem espalhado e comum. As pessoas limitam-se a desejar vingança, proferir sentenças e se defender da maneira que podem.
Pois bem. Esse Maurício fez piada com a morte de Eduardo Campos. Ele postou no Twitter: “O aeroporto era do Aécio?” Outras pessoas chegaram a sugerir que seria melhor se no avião estivessem Aécio Neves ou Dilma Rousseff. O que há nesses corações. Têm, realmente, coração?
Eles ignoram que os sete homens mortos lutavam. Tinham um destino em comum. Morreram na batalha, sonhavam com um Brasil diferente. Não há como saber - se tudo seguisse normalmente-, se os planos de Eduardo Campos vingariam. Mas há como ficar certos de que os sonhos dele e de muitos não morrem, transformam-se em ideias que repousam em outras mentes.
Os “humoristas” continuam rindo da dor e muitas pessoas ainda os aplaudem como se fossem dignos de respeito. Mas não podem ignorar que os sonhos não morrem. Nem a queda mais brusca de um avião os mata.
Eles são apenas ultracéticos. Nada os comove. Não sabem que até as flores jogadas nos túmulos traduzem sentimentos entre vivos e mortos. Fazem companhia a uns e contam segredos a outros. Nutrem e representam uma saudade. Brotam em cima da terra que come a pessoa querida, e serão vistas por visitantes, e darão um recado novo. Recado que as pessoas teimam em não confessar em público. Estariam loucos? Não sei; sei que a morte continua, para mim, sendo algo que envia “lâminas de dor”.

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