Petribú e a saga da cana-de-açúcar

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Um território indígena, aldeia de índios tabajaras, virou engenho banguê e depois usina – Petribú. A palavra é oriunda do tupi-guarani, verdadeiro idioma nacional. É brasileira da gema, da família de palavras que a boca e a língua gostam de pronunciar, e o ouvido, de escutar. Assim: tamacavi, maracujá, maracajá, maracanã, guaraná, Guanabara, Guararapes, Ipanema, Jaciara, jacarandá, Itamarati, Pernambuco, jabuticaba... O tupi-guarani, com milênios de história e conhecimento, foi jogado na lata do lixo cultural. Petribú é resultado de potyraybu (potyra=flor d’água, y=água e bu=lugar, da Gramática da Língua do Brasil). O que se traduz por fonte de flores (outra versão diz “nascente de águas claras”. O Engenho Petribú, fundado às margens do rio Capibaribe, em 1729, era um lugar repleto de nascentes, tão bonito que outrora impressionara os índios.

Existe uma relação histórico-afetiva entre Olinda e Petribú. Na fundação de Olinda, por Duarte Coelho, em março de 1535, havia na comitiva do donatário da capitania a presença de “um homem nobre, de nome Arnoud de Holanda”. Este gerou família, da qual descendem os Cavalcanti de Petribú, que se dedicam até hoje à economia açucareira.  Em 1909, o engenho foi transformado em usina e o belo nome da terra incorporado ao sobrenome dos proprietários.  Centenas de engenhos e usinas já foram desativadas. A Petribú passou por diversas adversidades, e se mantém fiel a Pernambuco, “a capitania que mais prosperou”.
A cana, no princípio, era fruta e salvou os homens primitivos africanos, segundo historiadores. Um forte laço une o homem à cana. Esta não sobreviveria sem ele, pois precisa do homem para se reproduzir. A planta, muito apreciada pelos animais, chamou a atenção dos homo sapiens, que a incluíram no “cardápio”. A cana foi domesticada na Nova Guiné, África, há milhões de anos. Quando se formaram as primeiras tribos (10.000 a.C), a planta era comida e bebida em estado bruto. Depois se tornou néctar dos deuses e elixir para curar todos os males. Faz parte dos mitos da Nova Guiné: “O primeiro homem fez amor com uma cana e gerou a raça humana”. Em cascas de coco, os sacerdotes bebiam o caldo e ofereciam aos deuses em cerimônias religiosas. Os adeptos “comungavam” o “vinho”. Da África para a Ásia (1.000 a. C) foi um pulo. Na índia foi transformado em pó, utilizado como remédio e noivas casavam-se com grinaldas de açúcar. Os conquistadores árabes levaram o açúcar, palavra de origem arábica ou do sânscrito indiano Shakkar, aos quatro cantos do mundo antigo. O açúcar era especiaria adorada e “seguiu o Alcorão de Alá”, ajudando a que se aprendessem as crenças de Maomé. Acredita-se que cada fiel recebia uma cota de açúcar. Os egípcios trabalharam no clareamento do caldo e produziram açúcar de alta qualidade. Colombo trouxe a cana para a América. Cristovão de H. Albuquerque, a Petribú.
Quando criança, na Petribú, onde nasci, quase às margens do Capibaribe, pensava: “Deus criou a cana e ensinou ao homem a fazer o açúcar. O diabo, com inveja, inventou a cachaça”. Na verdade, o diabo inventou o diabetes (o excesso castiga). A cachaça é arte dos libertinos. A cana, presente de Deus. O açúcar é milagre da terra e magia dos homens. Em 2014, a Petribú completa 105 anos.
                                                                             Paulo Ferreira - jornalista

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