Filhos perdidos

Comentarios
Foto: Gazetaonline

Em comunicado restrito a este colunista a leitora reclama do filho desaparecido. Faz oito meses que não têm contato. Até agora nenhum sinal de seu retorno. A mãe, embora muito preocupada, recusa-se a divulgar a foto do filho nos meios de comunicação.

É possível que, se decidir usar os meios eletrônicos, o aviso de desaparecimento o alcance. Mas ela ainda não o fez. Teme não que a notícia ande veloz, a sociedade venha em socorro e mesmo assim não o encontre, mas que o filho, mesmo após perceber a nota, permaneça desaparecido, perdido ali no quarto a cerca de quatro metros da sala onde ela circula aflita por não tê-lo consigo, não o abraçar nem sentir o doce prazer de ser mãe.

Ela já não sabe o que fazer e tem certeza que muitas mães estão na mesma condição; com os filhos perdidos. São inúmeras as criaturas que “habitam” o ambiente escorregadio das relações (humanas?) sociais por meios tecnológicos. Neles a ilusão, a mentira e as distorções dos fatos são tão intensas que é possível aos usuários mais felizes do mundo atentarem contra a própria vida, no plano real, lógico. Eles somem, milhares de pessoas ficam consternadas, mas seguem a vida sem tirar dali qualquer lição. Em questão de segundos navegarão no paraíso virtual das realizações automáticas. Nele não falta felicidade plena, embora falsa. Mas é falsa com sabor de vingança, de superioridade. 

A superioridade, cabe afirmar, é o maior dos enganos. Digo em breves palavras: ela move a humanidade. Quase todos crêem nela sem duvidar. Agem sob a ótica da observação de quem pode mais e quem pode menos. Dessa forma todos se locomovem para sobreviver e caçam as presas, ou seja, aquilo que lhes será o sustento ou os bens. Para alguns tudo isso não passa de ilusão. Mas é o meio de se fazer partícipe da vida.

Por que me reporto a esse ponto? Porque é necessário mostrar a diferença entre a superioridade inevitável e a casual. No ambiente virtual, a que prevalece é justamente a casual. E aqui surge o debate das informações, e não das ideias. O campo é perigoso porque há muita gente convencida de que sabe muito. Inútil tentar mostrar-lhes o engano, as limitações. Eles não querem se tornar melhores, querem ter razão, ter palco.

Pelas redes assuntos sérios nem sempre são tidos como sérios. Eles são debatidos sob a visão de terceiros. Os frágeis argumentos dos debatedores são a cópia da cópia da cópia do que alguém já opinou. E com isso se consideram superiores. Mas não é só isso. O ambiente virtual vicia. Peço licença para citar-me: em outra oportunidade escrevi neste espaço que muita gente está tomando choque para reagir, pois passa horas inerte em frente a aparelhos eletrônicos. São vidas que se perdem sem se encontrarem.

Pessoas embevecidas com o mundo digital estão condicionadas a qualquer coisa. Assim que for criada uma grande mentira sobre a vida e futuro, dela participarão sem pestanejar. É lá que eles se perdem por serem incapazes de conviver por curto (imagine longo) tempo consigo mesmos. Menos ainda conseguem dar atenção aos parentes. 
Enquanto não forem despertados para a vida, o número de filhos perdidos só aumentará.
(publicado originalmente na coluna Voz Cultural do Jornal Voz do Planalto)

#Compartilhar: Facebook Twitter Google+ Linkedin Technorati Digg

0 comentários:

Postar um comentário

Sivaldo Venerando. Tecnologia do Blogger.