Crônica (Viver e existir)

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Está em curso o extermínio do sofrimento. O que restará da estrutura desse nosso antigo conhecido, será a cascata da angústia, e só. Mas não é motivo ainda para desespero; resta uma ponta de esperança.

Primeiro, vamos entrar pela construção do indivíduo do amanhã, educado já no presente. Desde o pré-nascimento, o ser humano vem sendo preparado para brilhar e, nos primeiros dias de vida, é visto como um objeto de consumo, envolvido na placenta invisível da tolerância moral, às vezes estendido para toda a vida.

É muito justa, mas danosa, a atitude dos pais dedicarem pouco tempo aos filhos, dar-lhes o melhor materialmente, em detrimento da educação acompanhada, tornando-os “imperadores” da permissividade. Isso é falta de amor por eles, já instalada inconscientemente na mente da sociedade consumista.

Amar é algo distinto desse tipo de comportamento. Amar é permitir o enfrentamento com as intempéries da vida. É deixar os sentimentos fluírem e ganhar experiência para seguir o rumo certo.

A geração adulta de hoje tem a vantagem de ter obtido conhecimentos sólidos, mas permite o envolvimento descontrolado dos filhos com ensinos diversos, provindos da rua, do mundo virtual, e até da escola de hoje, que, em grande parte, abre mão dos bons princípios educacionais da disciplina e da obediência.

O resultado são filhos de atitudes dúbias, cheios de informações, vazios de conhecimento. Antes, reclamava-se de não se ter liberdade, mas havia segurança. Hoje há liberdade, mas não segurança nas ações.

Na era do conhecimento, instala-se o abismo da filosofia de que aprenderemos de tudo ao mesmo tempo, e conquistaremos tudo o que se anuncia. Puro charlatanismo. 
Por mais que seja fácil ter ao nosso alcance os benefícios de conquistar algo mais - impossível há poucos anos atrás, como conhecer novos lugares, ter mais comodidade e conforto - não dá pra negar o fatalismo dos sentimentos contrariados, embora a vaga sensação da destruição do sofrimento seja propagada como nova regra da felicidade nos dias de hoje.

Para a má sorte da nossa sociedade, os milagres da tecnologia e os envolvimentos virtuais a deixa cada vez enquadrada em sua infelicidade. Nesse triste âmbito, as pessoas apenas existem, mas não vivem na sua verdadeira essência.

Poucos notam essa diferença. A grande maioria está açodada em compromissos, em buscar conhecimento, cuidar das amizades virtuais. Viver está longe disso. Viver é sentir o outro, compartilhar seus problemas, contemplar a natureza, preocupar-se com o próximo, enfim, humanizar-se.

Existir é estar distante, ostentar a soberba da suprema felicidade, de ter tudo ao seu alcance e rir das desgraças alheias. Esse sentimento instalou-se na maioria das pessoas.
Não se trata de condenar a modernidade, menos ainda a tecnologia, mas, sim, fazê-las nos servir sem que sirvamos a elas, já que fomos criados para controlar todas as coisas existentes.

Porém, muita gente está esquecida de viver. Não tem tempo para descobrir-se, conhecer quem vive ao seu lado, e que, de tanto ver, não vê, de tanto buscar, nada encontra, e de tanto querer, só conquista o vazio, a solidão e a angústia. É hora de desprezar o supérfluo e dar prioridade à vida.

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Sivaldo Venerando. Tecnologia do Blogger.